Milenna Saraiva escreve sobre a arte de Luis Ricardo Falero

Nossa colunista fala sobre Duque de Labranzano, um grande pintor espanhol. Luis Ricardo Falero (1851-1896) se especializou em nus femininos e cenários mitológicos, orientalistas e de fantasia. Sua técnica mais comum era óleo sobre tela.

As pinturas de Falero são mantidas principalmente em coleções particulares na Europa e nos Estados Unidos, embora uma aquarela das “Estrelas Gêmeas” esteja na coleção do Metropolitan Museum of Art de Nova York.

Falero nasceu em Granada e originalmente seguiu a carreira na Marinha Espanhola, mas desistiu da mesma, para a decepção de seus pais. Ele viajou a pé para Paris, onde estudou arte, química e engenharia mecânica. Os experimentos que ele teve que realizar nos dois últimos eram perigosos, levando-o a decidir se concentrar apenas na pintura. Depois de Paris, estudou em Londres, onde acabou se estabelecendo.

O artista tinha um interesse particular em astronomia e incorporou constelações celestes em muitas de suas obras, como em “O Casamento de um Cometa” e “Estrelas Gêmeas”. Seu interesse e conhecimento de astronomia também o levaram a ilustrar as obras de Camille Flammarion.

Falero era a definição de um babaca rico Vitoriano. Ele era um duque espanhol, aficionado por bigodes sofisticados. Ele seduzia suas modelos e encerrou o seu noivado para continuar espalhando doenças transmissíveis. Também foi responsável por engravidar sua empregada e modelo de 17 anos e, em seguida, despedi-la, jogando-a com o bebê na rua, para esconder o escândalo. Foi processado por paternidade e perdeu, tendo que pagar 5 Xelins por semana de pensão. Mas isso não durou muito, pois naquele mesmo ano, ele morreu de uma doença então sem nome, que provavelmente era sífilis.  Ele tinha 45 anos de idade.

VAMOS OBSERVAR
Luis Ricardo Falero
Witches on the Sabbath (O Sábado das Bruxas), 1878
Óleo sobre tela
145.4 x 117.5 cm

Sua adoração pela forma feminina é evidente em seu trabalho, assim como seu uso dinâmico de luz e movimento. O Sábado das Bruxas foi inspirado na história de Fausto, de Goethe, onde o demônio Mefistófeles leva Fausto a uma montanha, onde ele testemunha o Sabá de uma Bruxa (conhecido como Shabat da Bruxa). O encontro profano entre demônios e humanos resultou em pragas na terra. As histórias dessas reuniões têm uma longa permanência na literatura europeia, com raízes pagãs.

A obra tem uma energia frenética, efeito criado pela composição em espiral, que culmina no centro da tela, o primeiro lugar que olhamos. Lá, duas jovens e voluptuosas bruxas cavalgam em cima de um bode, um dos principais símbolos para o demônio. Uma delas encara os espectadores com olhos de fogo, trazendo quem observa para dentro da narrativa. Ao redor das figuras centrais aparecem bruxas anciãs e novas que flutuam no céu nublado em suas vassouras, puxando pessoas, pássaros, homens, crianças e lagartos para dentro de um redemoinho profano.

Depois de absorvermos o geral, começamos a prestar atenção nos detalhes e nas conexões entre as personagens, como o toque da bruxa velha, cujo corpo é perseguido por uma iguana; há também um esqueleto de pelicano empoleirado em cima de um bumbum de outra bruxa; tem um gato preto assustado arrepiado e um cadáver podre e bigodudo sendo puxado – Luís, é você? No geral, este é um trabalho perturbador, que foi escandaloso para a época em que mulheres não podiam nem mostrar seus tornozelos. Ao mesmo tempo é uma obra maravilhosa, pintada com maestria usando técnicas singulares.

A cena pertence à estética do Sublime Terrível, caracterizada pelo estilo artístico da época, que se estendeu ao pré-romantismo literário e musical. Tratava-se de provocar um desconforto no espectador através do uso de imagens com caráter de pesadelo. O tema de bruxaria era popular entre os Iluminados espanhóis e amigos artistas do pintor.

Com frequência histórias de mulheres só existem para servir às histórias de homens. Nos épicos antigos, as personagens femininas são inexistentes ou condenadas a coadjuvantes bidimensionais. Curandeiras especialistas no poder das plantas e das ervas foram acusadas de bruxaria e queimadas nas fogueiras da Inquisição desde a Idade Média. Historicamente, as acusações de bruxaria eram uma maneira de controlar as mulheres através do medo. Não é por acaso que elas foram atacadas por serem consideradas independentes ou fora do padrão. A mensagem era clara: obedeça ou será morta na fogueira. Mas, como disse antes a feminista Matilda Joslyn Gage, muitas dessas chamadas bruxas, eram na verdade cientistas e médicas. Elas conheciam herbalismo e cura, podiam fazer medicamentos, atuavam como parteiras, enfermeiras, anciãs e líderes em suas aldeias. Bruxas eram mulheres cujos poderes a sociedade não pode controlar.

 


Por Milenna Saraiva, artista plástica e galerista, formada pelo Santa Monica College, em Los Angeles.

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