Sabe aquela frase: “na crise as pessoas se unem”? A moda não ficou de fora e o consumismo desenfreado dos anos anteriores deu espaço a uma nova maneira de se vestir: o guarda-roupa compartilhado.
Quem está atento às redes sociais já deve ter trombado online com a House of Bubbles, uma “roupateca” de São Paulo (SP). O local contava com 700 peças de grifes como Reinaldo Lourenço, Osklen e Dior. Ao contrário de um brechó ou das lojas de aluguel de roupa de festa, a agora rebatizada Roupateca ganhou endereço próprio e funciona como se fosse um serviço por : o usuário paga uma mensalidade de R$100, R$200 ou R$300 e pode retirar, respectivamente, uma, três ou seis peças por mês.
Tudo começou quando as consultoras de estilo Daniela Ribeiro e Nathalia Roberto decidiram mudar a forma de trabalhar com moda. Elas tocavam o Entre Nós, projeto que funcionava como um bazar com peças de descarte dos guarda-roupas da clientela. “A gente quis criar algo novo e relacionado à economia colaborativa. O conceito tem conexão com nosso trabalho e, como estávamos mergulhadas nisso, chegamos no formato da biblioteca de roupas”, diz Daniela. “As pessoas que assinam o serviço buscam também por design e informação de moda. Roupa é história e queremos que as pessoas contem as delas”, completa.
Foi seguindo exatamente este conceito que Luciana Nunes decidiu largar o emprego na área da publicidade para ampliar não só o guarda-roupa, mas principalmente seu círculo de amigos e experiências. “Sempre trabalhei com moda e constantemente ouvia as pessoas reclamando que as peças ficavam encostadas no armário, mas tinham alguma história bacana para contar. Achei que era hora dessas roupas saírem e irem para as ruas”, fala. Foi assim que nasceu o armário compartilhado Lucidbag, em São Paulo (SP).
Luciana teve que adaptar seu negócio cinco vezes até chegar ao formato de “guarda-roupa compartilhado”. Agora são três planos disponíveis: um básico que custa R$ 50, com roupas de fast fashion e para o dia a dia; um mais refinado por R$ 150, com grifes bacanas como Herchcovitch e Cris Barros; e um luxuoso que sai por R$ 300, que também inclui Gucci e vestidos de gala. E o lucro, aliás, é dividido –para cada peça alugada, a “proprietária” recebe 20% do valor.
Mas não vá pensando que é só pagar a mensalidade para usufruir do armário estrelado. Para alugar, é preciso deixar pelo menos uma peça e ar por uma consultoria. “É muito difícil as pessoas entenderem que o vestuário delas, muitas vezes, não é tão especial quanto elas pensam. Por isso damos esse cursinho, analisamos o guarda-roupa e diagnosticamos o estilo de cada cliente”, fala Luciana. “As peças de uma pessoa dizem muito sobre ela. Agora que nos tornamos uma comunidade, e consequentemente sabemos o que tem a ver com cada menina, rola essa cumplicidade. São histórias escritas em conjunto”, conclui.
Ao que tudo indica, para multiplicar é necessário dividir. Segundo a revista “Forbes”, a economia compartilhada já movimenta cerca de US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 11,4 bilhões) somente nos Estados Unidos e tem ajudado o país a superar a crise.
No Brasil, embora o modelo seja ainda embrionário, o compartilhamento vem ganhando cada vez mais espaço. Para Ricardo Abramovay, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, istração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), estamos ando por um processo de mutação da economia, de um sistema de oferta para outro que valoriza a experiência. O futuro? É se adaptar. O mundo se transformou e a economia já percebeu isso.
Veja onde encontrar alguns guarda-roupas compartilhados, em São Paulo – SP:
Roupateca
Rua Lisboa, 445 – Cerqueira César
Aberto de segunda a sexta-feira, das 11h às 20h, e aos sábados, até as 17h
Lucidbag
Rua Aimberê, 2004 – Sumaré
Atendimento com hora marcada
Casa Goiaba
- Marta, 115 – Barra Funda
Atendimento com hora marcada