Enquanto você está lendo esta matéria, um grupo de ciclistas da região está a caminho de Aparecida do Norte. Eles saíram da Granja Viana hoje pela manhã, por volta das 5h, com destino a Caçapava, onde pegaram suas bikes e estão pedalando, por 80km, pela Estrada dos Romeiros. Serão, no máximo (se não furar muito pneu!), 12 horas de pedal, ida e volta, para participar da missa de sábado, às 18 horas. “Receberemos uma benção especial”, revelou Manoel Lopes, um dos integrantes do grupo, à nossa equipe.
Mas que grupo é esse? Estamos falando do Geleias Bikers! Já ouviu a respeito? “Geleias existe há 5 anos. Éramos quatro casais vizinhos, no Jardim da Gloria, que tomou gosto pelo pedal. Viajávamos nos finais de semana para locais onde existiam trilhas, lugares interessantes com muita natureza, praias, morros, ilhas, cidades, etc. O grupo foi crescendo, mais amigos, amigos dos amigos e sempre com o mesmo objetivo: o de se divertir pedalando, curtindo a natureza, além, é claro, de manter ativa a nossa saúde”, explica. O idealizador foi o granjeiro Nelson Bafs, o Nelsão. “Tudo é culpa dele”, brinca Manoel. Começou com 8 pessoas e, hoje, são 56 que se revezam nos eventos. “Mas temos 8 casais que estão sempre juntos, em todas as jornadas”, ressalta.
E há uma particularidade: os ciclistas, em sua grande maioria, são sessentões. Sim, eles têm, em média, 60 anos e “pedalam muito”. “Descobrimos que pedalar depois dos 60 anos é maravilhoso… muitas vezes os amigos de nossos filhos perguntam: onde estão seus pais? E meio que constrangidos, eles respondem: estão pedalando 50 km por dia”, comenta, rindo, o geleia Manoel. “Descobrimos que nossas diabetes não são mais bem-vindas, nossas dores já não mais existem e nossa aparência é totalmente outra. Nós fazemos festas toda semana e, se tem que viver, vamos viver intensamente até quando não der mais”, completa.
Os geleias viajam para pedalar em Gramado/RS (“como se estivesse pedalando na Europa”, descreve o ciclista), Foz do Iguaçu/PR (“já encontramos uma onça atravessando a pista”), Vale Europeu/SC (“são 6 dias de pedal todo dia 50 km pelas montanhas de Santa Catarina, lugar lindo demais”), Ilha do Ariri em Cananeia (“esse é pura aventura, envolve uma hora e meia de barco e lá é puro risco”) e muitos outros locais, até mesmo indo para a represa do Morro Grande, onde há “cachoeiras lindas no percurso”. “O objetivo maior é chegar ao destino… e a gente chega”, resume. O grupo criou o Ciclotia e, depois, o Pedala Cotia, circuito que vai do Parque Cemucam à represa do Morro Grande. Na última edição, reuniram 200 ciclistas com premiação e tudo mais. “Esse ano, se for permitido, faremos a 6ª edição”, sonha o integrante.
Das muitas viagens que fizeram, será que tem alguma situação engraçada? Manoel responde que sim e começa a nos contar. “Uma vez, estávamos em Porto Feliz, numa estrada rural, numa trilha no meio de muitas vacas, e uma de nossas integrantes, a Liane, levou um tombo próximo a elas. Todas as vacas pararam de comer e ficaram olhando a Liane por um bom tempo, paralisadas, comovidas com a situação…e aí montamos a charge do grupo das vacas pensando ‘a colega caiu’. Isso foi motivo de nunca mais esquecer o dia”, lembra rindo.
E as memórias não param por aí. “Outra vez, em Montes Verdes, o Du rodando uma piscina com sua bike conseguiu cair dentro dela, num frio de 5 graus. Na hora, foi muito engraçado, mas ele machucou o rosto. Aliás, se machucar é normal. Nosso amigo Chagas, a caminho da represa do Morro Grande, de tão cansado que estava, dormiu sobre a bicicleta e também caiu. Como pode dormir numa bike? Pois é… ele se machucou feio. Mas ado algum tempo, tudo é motivo para gozação”, conta.
O Geleias Bikers tem até estatuto, sabia? E uma das regras é bem clara: quem tiver o pneu da bicicleta furado, durante um pedal, paga cerveja no final. “Então, tem gente blindando os pneus só pra não pagar a multa”, confessa.
E não pense que tudo se resume apenas a pedaladas: o grupo também realiza ações solidárias. “Duas vezes por ano, compramos cestas básicas para a comunidade carente de Cotia. Somos integrantes e realizadores das quermesses da Paróquia de Santo Antônio também. Essas atividades são bem constantes e que nos fazem muito bem”, conta. Nesta semana, inclusive, fizeram uma vaquinha para colocar câmeras de segurança na Paróquia. “Por incrível que pareça, ladrões entram e roubam fios, lâmpadas, o que estiver fácil”, justifica.
Projetos para o futuro? Ir de Manhattan ao Canadá, Caminho de Santiago de Compostela e o Atacama estão por vir. “Todo pedal nosso é envolvido de muita alegria, muitas coisas acontecem, mesmo porque a nossa motivação é o grupo”, finaliza Manoel.
Por Juliana Martins Machado